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Casal vence a homofobia e partilha amor com o filho adotivo

Wenner Franco e Alessandro Cintra realizaram o sonho de serem pais

17 maio 2018 - 19h00Por Bruna Vasconcelos

O casamento gerou frutos e agora eles são três. No dia mundial contra a homofobia, 17 de maio, Wenner Franco e Alessandro Cintra só tem motivos para comemorar. O casal venceu todos os olhares de reprovação, passou por cima da homofobia e realizou o sonho de adotar uma criança. Hoje, os três vivem uma sintonia de amor em um lar saudável, em Anastácio.

A história de amor entre Wenner e Alessandro teve início nas redes sociais em 2007. Os dois jovens trabalhavam em Campo Grande quando começaram a trocar mensagens pelo computador. O primeiro encontro foi marcado dias depois e, a partir daquela data, os destinos seriam unidos para sempre.

Sabendo do que iriam enfrentar, o funcionário público estadual e o gerente do hotel decidiram assumir a relação e contar a novidade para a família.

“A aceitação na adolescência foi bem difícil, eu preferia me encolher, dedicar aos estudos, igreja e até falsos namoros heterossexuais para ter a liberdade de viver sem bullying. Depois quando você se torna adulto e é um bom profissional, acaba ficando mais fácil porque você agrega outros tipos de amizade. Quem te respeita você quer por perto, quem não respeita você não quer. A aceitação tem a ver com respeito na nossa sociedade. A nossa família hoje frequenta a igreja e não sofremos mais. Pais na minha época não aceitavam, hoje em dia já tem mais aceitação.”, relata Alessandro, hoje com 39 anos.

Primeira viagem internacional da família foi para Bolívia

Apesar do casamento feliz, os dois sentiam que faltava uma peça para completar a família. Sem filhos, a atenção do casal ficava voltada aos sobrinhos. Foi então que decidiram tomar a decisão, segundo eles, mais importante de suas vidas.

“Decidimos adotar. Foi a maior alegria, a gente vem pra Terra pra deixar algo pra alguém. Se puder criar uma pessoa e ela crescer com bons ensinamentos, já valeu a pena. Para alguns casais isso é tão difícil (ter filho). Tivemos muita sorte na adoção e com certeza é referência ao nosso amor. A principal razão da nossa felicidade, está conosco faz 7 meses.”

O procedimento legal durou cerca de um ano. Como não existiam casais na fila de adoção em Aquidauana e, em Anastácio tinha somente um na espera de outro perfil, Wenner e Alessandro logo realizaram o sonho de serem pais.

Eles procuraram a Assistência Social e deram a entrada nos papéis. Passaram por entrevistas, exames médicos e análises financeiras até serem considerados “aptos” para a adoção.

Na metade do curso conheceram as crianças que estavam disponíveis e, no segundo encontro, colocaram os olhos no pequeno A. H. S, de 4 anos.
“Foi amor à primeira vista. Sentíamos que ele seria nosso filho, que era ele.”

O processo burocrático durou mais 2 meses até a criança ir definitivamente para o novo lar. Os três iniciaram um processo de adaptação e reinserção  na sociedade. Mesmo com alguns olhares e comentários maldosos, os pais não deixaram que o preconceito atingisse o amor e a aliança entre eles. 

“Quando aparecemos com ele em público tivemos muitos elogios, muito apoio, somos muito bem recebidos aonde chegamos. A notícia da adoção teve alguns comentários maldosos, mas eu costumo analisar a vida da pessoa e muitas vezes a pessoa tem um caráter que não se assemelha ao nosso.”

A criança e o preconceito

Os pais contam, com entusiasmo, dos primeiros dias do filho na escola nova, logo que mudou de casa. Ele contava para os colegas de classe que “agora tinha dois pais”. 

De acordo com Alessandro, a figura materna é preenchida pelas avós e o garoto não questiona o fato da “mãe” não morar com ele.

O primeiro passo para combater o preconceito contra os homossexuais é educar a mente infantil. Infelizmente, durante o ano, são registrados centenas de casos de abusos físicos e emocionais contra o público LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros).

“Já ví pais de família que são separados, pagam pensão, mas nem vão visitar o filho e vêm falar mal da minha adoção. Paga pensão e nunca levou o filho na esquina. Eu simplesmente relevo porque eu estou todo dia com meu filho. Dou educação, amor, saúde. Levo na escola, no médico, na igreja...”