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Entrevistas

Fugindo da guerra, sírio veio para o Brasil há três anos e hoje é mais brasileiro do que muitos

Ainda na Síria Houssam Nour Aldeen chorou a derrota do 7x1 para a Alemanha na copa de 2014

25 junho 2018 - 12h28Por Kerolyn Araújo

Houssam Nour Aldeen tem 27 anos e mora no Brasil há três. Ele chegou em São Paulo sem falar uma palavra em português, mas com a vontade de ter um futuro melhor longe da guerra. 

Em Campo Grande há dois anos e meio, o engenheiro civil já é fluente na língua, torcedor número um da seleção brasileira de futebol e sabe até cantar o hino nacional. Ainda na Síria, ele sofreu e chorou como um brasileiro na derrota do 7x1 na copa de 2014.

Conheça a história de Houssam:

TopMídiaNews: Por que você decidiu deixar o seu país e por que escolheu o Brasil?

Houssam: Estava procurando paz. Minha família é de Sweida, mas morei cinco anos em Damasco, que é a Capital da Síria, por causa da faculdade. Muitas bombas caíram bem perto de mim, comigo não aconteceu nada, mas vi vários amigos morrer. Quando terminei a faculdade decidi sair do país. Tentei visto nos Estados Unidos e em vários países da Europa, mas por causa da guerra, eles eram negados. Minha esposa estava grávida e eu precisava que minha filha nascesse em um lugar com paz, foi aí que pedi o visto para o Brasil. Apesar de amar o país, nunca imaginei que fosse morar aqui.

TopMídiaNews: Você chegou no Brasil sem falar português. Como foi a adaptação?

Houssam: Eu não sabia falar nada de português. No avião, vindo para o Brasil, aprendi a contar até 10, que era apenas para conseguir comprar as coisas. Fiquei morando seis meses em São Paulo e, como falo inglês fluente, dava aulas para me manter. Aprendi a língua sozinho e bem rápido, estudando em livros. O povo brasileiro foi bem receptivo comigo, sempre me trataram muito bem. Minha esposa acabou não se adaptando e voltou para a Síria depois que minha filha nasceu, mas em setembro elas voltam para morar comigo em Campo Grande.

TopMídiaNews: E como você veio parar em Campo Grande? Já tinha emprego?

Houssam: Quando vim pra cá, queria trabalhar na minha área. Consegui rápido um emprego e estou nele há mais de dois anos. Em breve vou fazer uma prova para tirar a nacionalidade brasileira.

TopMídiaNews: Você sempre amou o Brasil e o futebol brasileiro. De onde surgiu esse amor?

Houssam: Minha família toda ama o Brasil. Meu pai foi técnico de um time da terceira divisão na minha cidade. Nós sempre amamos o futebol brasileiro. Aqui é a origem do futebol. Na copa de 1998 comecei a torcer muito pelo Brasil por causa do Ronaldo Fenômeno e outros jogadores. Na minha casa na Síria tinha até bandeira do país na parede. Eu até brincava falando que quando fosse adulto, iria morar no Brasil.

TopMídiaNews: E como foi pra você ver a derrota do 7x1 na copa de 2014?

Houssam: Eu chorei muito no dia do 7x1 e desliguei a televisão antes do jogo terminar para não ver a derrota. Quis tirar a bandeira do Brasil que estava pendurada no telhado da minha casa, mas meu pai não deixou. Ele explicou que jogo era daquele jeito mesmo (risos). Mas com a derrota da Alemanha para o México agora em 2018 eu me senti melhor (risos).

TopMídiaNews: Você está confiante que o Brasil será hexa agora em 2018?

Houssam: Sim. O Brasil tem que ganhar. O hexa é nosso! Até brigo com meus amigos que estão na Síria e torcem para outras seleções. Acredito em uma final entre Brasil e Espanha. 

TopMídiaNews: Você pretende voltar para a Síria?

Houssam: Não quero mais volar. Não tenho mais esperança no meu país e acredito que a guerra vai acabar com ele. Eu amo o Brasil.