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Entrevistas

'Da roça para a polícia': policial relembra trajetória difícil e realiza ações sociais na Capital

Cassimiro comanda o grêmio da polícia militar e faz parceria para levar o lazer aos mais carentes

22 janeiro 2018 - 15h12Por Dany Nascimento

Com duas opções de vida em Andradina-SP, Edvaldo Antônio Cassimiro, 54 anos, ‘fugiu’ das opções e foi em Campo Grande que construiu a vida após ingressar na Polícia Militar. Aos 19 anos de idade, Cassimiro deixou a casa dos pais, conheceu Campo Grande, passou nos testes e deu início aos primeiros trabalhos como policial.

De acordo com o policial aposentado e atual presidente do grêmio da Polícia Militar, muitos companheiros perderam a vida ao prestar serviço na fronteira. “Vi muitos amigos perderem a vida com troca de tiros. Fiquei muito tempo sem ir na casa da minha mãe, mas no começo é assim, tudo é difícil e depois as coisas melhoraram”.

Cassimiro destaca que o clube da polícia surgiu quando a categoria enfrentava dificuldades e hoje, realiza parcerias e serve de lazer para aqueles que nem conheciam uma piscina de perto. “Em pleno século 21, ainda existem crianças que nunca viram uma piscina de perto. Cobramos um valor simbólico, R$ 2 de cada aluno que ajuda  a comprar um balde de cloro e eles desfrutam de um dia todo de lazer. Fazemos parceria com as diretoras de escolas”.

Confira a entrevista completa:

TopMídiaNews: como decidiu deixar São Paulo para viver em Campo Grande:

Edvaldo Cassimiro: sempre fomos pessoas pobres, meu pai é pedreiro, sempre fomos humildes. A cidade de Andradina/SP era pequena demais. Sou da terra do rei do gado, lá quando você não trabalhava de servente de pedreiro, você trabalhava na roça. Ou um, ou outro. Os amigos falaram que estavam pegando gente para trabalhar na polícia em Campo Grande, eu nem sabia para que lado ficava Campo Grande. Peguei o trem de segunda e viemos em 25 rapazes. Eu tinha 19 anos, tinha recém feito o primeiro grau. Fiz os testes, fiquei 15 dias aqui. Almoçava no quartel do exército e jantava no outro porque não tinha dinheiro para comprar comida. Ficamos em teste, passamos na prova e ficamos laranjeiros do quartel. Fizemos prova teórica, exame médico, físico e psicotécnico e passamos pela investigação social e deu tudo certo.

TopMídiaNews: como foram os primeiros dias como polícia:

Edvaldo Cassimiro: o maior sofrimento foi deixar a família para trás, mas a carga da vida exige a responsabilidade, sem deixar de manter contato. Os primeiros dias foram difíceis, há 33 anos atrás com pai, mãe e família ali, você se pega em uma solidão louca, leva um tempo até desacelerar da família. Baqueia a gente, mas o objetivo falava mais alto, a vontade de vencer era mais importante. Eu fiquei no 1° Batalhão de Polícia Militar, me formei em 1984. Eu morava em cortiço, que hoje chamam de kit net.

                                                     

TopMídiaNews: depois de quanto tempo conseguiu adquirir sua casa própria:

Edvaldo Cassimiro: graças a Deus o governo construiu umas casinhas no Estrela Dalva,  na Maria do Couto II e depois de onze anos eu ganhei minha casinha e estou no Estrela Dalva até hoje.  Vida na polícia era trabalhada, escala apertada, mas foi tranquilo, sempre tive bons comandantes.

TopMídiaNews: como descreve o trabalho prestado na fronteira do Estado :

Edvaldo Cassimiro: A equipe corria muito perigo na fronteira. Trabalhei em Mundo Novo, Ponta Porã, andamos bastante e Deus nos livrou do mal maior. Perdi muitos amigos, no decorrer do tempo em operações, baleados em troca de tiros.  Isso acontece com todo ser humano, você pensa o que estou fazendo aqui, mas a obrigação, responsabilidade e necessidade faz com que você continue a caminhada.

TopMídiaNews: como surgiu o grêmio da polícia:

Edvaldo Cassimiro: na época do governo Wilson Barbosa chegamos a ficar três meses, mais o décimo terceiro sem pagamento, aí houve a necessidade de criar um local para os associados comprarem e quando saísse pagamento, tentava repor essas despesas do dia a dia com posto de gasolina, mercado, farmácia, fomos agrupando os policias. Abrimos para a Agepen, para Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, através daí compramos clube, compramos a sede social e houve a troca de banco, ficou meio complicada a questão dos convênios, zeramos, pagamos as conas e hoje temos piscina, campo de futebol, playground, funciona todo final de semana e feriado. Recebemos associados e quem não é, cobramos uma taxa no valor de R$ 20 para ajudar na manutenção e pode aproveitar o dia todo.

TopMídiaNews: você realiza ações sociais para ajudar pessoas carentes, como funciona?

Edvaldo Cassimiro: a Polícia tem que andar de mãos dadas com a comunidade, através disso, eu resolvi abrir o grêmio tanto para vizinhos, pessoal moreninhas, Itamaracá, mistura a população, aqui exijo o tratamento familiar, não tem baderna, nem anda. No final do ano fazemos ações, hoje você vê que tem criança em alguns colégios que nunca viu uma piscina, estamos no século 21 e tem criança que nunca viu. Falo com diretores, cobramos R$ 2 de cada aluno e ajuda a comprar um balde de cloro, eles passam o dia aqui. O próprio Comando Geral arruma o ônibus, a prefeitura, é um conjunto de ações que expande. Tanto da polícia, como do governo do Estado, a prefeitura ajuda. EU faço eventos também que além do pagamento da entrada, as pessoas tem que trazer alimento não perecível.  

                                          

TopMídiaNews: quem são os beneficiados com essas arrecadações?

Edvaldo Cassimiro: não adianta dar 600 kg para uma instituição só, dividimos um pouco para cada uma, é uma forma de dar um pouco da gente para as pessoas.