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Entrevistas

Delegada alerta sobre perigos de ‘estelionatários sexuais’ na internet e incentiva denúncias

Apesar de balanço positivo em 2017, vítimas de assédio ou estupro ‘iscas’ através das redes sociais hesitam em buscar ajuda

18 dezembro 2017 - 17h37Por Amanda Amaral

Apesar na redução dos índices de violência contra a mulher entre 2016 e 2017, há crimes particularmente em ascensão e camuflados em meio a falta de denúncias. São eles os iniciados através da internet, onde o autor geralmente se beneficia das redes sociais para sugerir falsas oportunidades de emprego, por exemplo.

Em entrevista ao TopMídiaNews, a delegada titular da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), Ariene Murad, em Campo Grande comenta sobre esses casos, outros que envolvem a internet e deixa seu incentivo para que vítimas não tenham receio em procurar ajuda.

Leia abaixo:

Qual o balanço de denúncias registradas na Deam em 2017?

Em relação a 2016, os casos diminuíram tanto em Mato Grosso do Sul quanto na Capital. Este ano tivemos seis feminicídios consumados em Campo Grande, ano passado foram sete. Tentados, 19, e ano passado 38. Em todo o Estado, esse número de mortes caiu de 24 para 16, e as tentativas de 107 para 51.

Acreditamos que as campanhas contra a violência doméstica, prisões. Esse mês chegamos ao flagrante de número mil desde a inauguração da casa

Na mídia, houve registro de alguns casos em que essas vítimas foram enganadas pela internet. Há um aumento desse contexto, especificamente?

Não tem como a gente separar em meio a outras denúncias, pode ter sido um estupro consumado, um estupro tentado e, se o meio foi a internet, não tem como restringir no sistema de registros.  

O que esses casos têm de diferente?

Nesses casos de crime pela internet, geralmente autores são pessoas articuladas que conseguem passar um tempo enganando essa vítima mediante ardil (forma de reduzir a vigilância da vítima) e que vão até essas garotas com promessas de dinheiro fácil.

Igual um rapaz que tentou fazer isso recentemente, dizia que ia fazer fotos para uma loja de marca famosa, que está em busca de uma moça bonita para fazer fotos, e o que essas vítimas as vezes não se atentam é que, da mesma forma que o agressor tem facilidade através das redes sociais em entrar em contato com elas, elas também têm como pesquisar se aquela empresa está fazendo divulgação.

Que outro elementos indicam golpe?

Estelionatários no geral tem boa lábia. A pessoa vítima muitas vezes fica até constrangida, porque você não consegue realmente desconfiar que o autor estava te enganando. Essa lábia pode perdurar por meses, o quanto for necessário para atrair a vítima ao golpe.

Não há um ponto específico a se desconfiar, mas é importante já começar desconfiando. Oferecer bebidas ou medicamentos, pedir para a vítima ir sozinha, esses detalhes também são indicadores de que algo está errado.

Quais as dicas para que as chances de cair em um golpe sejam reduzidas?

Procurar o nome da empresa em site de busca, ver se o nome da empresa está limpo e se realmente estão chamando garotas para algum tipo de publicidade. A orientação principal é desconfiar primeiro e, através da própria internet, telefone, tentar se certificar se o comunicado procede.

Ainda mais em casos que o abusador aparenta ser uma pessoa bem relacionada, tem boa aparência, pode ser universitário. A vítima não acredita que essas características sejam de um potencial criminoso. Às vezes até mesmo por conhecer a pessoa de vista, ter ouvido falar, é importante se certificar.

Que outros crimes têm a internet como ‘gatilho’ do agressor?

As redes sociais realmente potencializaram não só esse tipo de crime, mas também outros diversos. O que tem de conflitos envolvendo mensagens no Facebook, WhatsApp, postagem de Instagram, é absurdo. O que a gente percebe é que as redes sociais têm sim potencializado, principalmente quando o crime é de dano, ou violência doméstica. Acontece de uma pessoa ver uma mensagem, destruir o celular da outra pessoa, ou partir para a agressão.

Percebemos que há um incremento a esse machismo, que já está enraizado no homem, uma questão estrutural da nossa sociedade patriarcal.

Por que há receio da vítima em denunciar?

Há um constrangimento. Perspectivas mais otimistas apontam que apenas 30% dos casos são denunciados, porque as vítimas sentem vergonha, por não ter desconfiado e aceitado a proposta, fica se culpando, ‘nossa, como fui burra’, e teme o julgamento alheio.

Por isso, acabam não buscando ajuda, quando nós da investigação poderíamos, além de ajuda-la, coibir outros casos e até encorajar possíveis vítimas anteriores do mesmo agressor, como costuma acontecer.

Não há porquê se sentir constrangida, porque realmente essas pessoas são ardilosas, e a Deam promove todo o apoio psicológico até antes do registro de boletim de ocorrência.

Denúncias podem ser feitas através do número de telefone (67) 3314-7547.