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Mês da Mulher

Aos 49 anos, Mari abraça a vida após vencer o câncer e graduar-se em universidade federal

No mês da mulher, ela divide sua história para inspirar tantas outras a seguir em frente, apesar dos obstáculos

08 março 2018 - 07h00Por Amanda Amaral

No Dia Internacional da Mulher, a história de Mariney Eudosciak Souza Luz, 49 anos, que talvez se assemelhe a outras tantas, merece ser contada. Entre os percalços inerentes de ser mulher e alguns outros a mais pelo caminho, uma doença e a conclusão de um de seus maiores sonhos, a positividade e apoio familiar formaram o laço fundamental para a superação.

Por partes e em ordem cronológica, ela começa a falar já com emoção nos olhos. “É que exatamente nesse dia, há 30 anos, eu e meu marido nos conhecemos”, diz ao lado ele, Wagner Simões Luz, 51 anos. Adiciona, orgulhosa: “nunca terminamos, nem demos tempo!”.

Depois de casada, se dedicou ao trabalho do lar e a atenção integral às filhas, de tempos em tempos fazendo vendas por catálogo e outras coisas. Muitos anos se passaram e, com uma das filhas já com diploma da faculdade e a outra caminhando para o final da graduação, renasceu um sonho antigo que parecia estar no momento de ser realidade. 

Em 2012, frequentou aulas de cursinho preparatório ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), para tentar uma vaga na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Na época, a mãe teve um acidente vascular cerebral e as primeiras e naturais opções de tentativas no Sisu seriam os cursos de nutrição ou fisioterapia. A nota não foi suficiente, o que a desanimou, mas logo a família fez questão de motivá-la novamente.

“Por que não pedagogia?”, questionaram. Anos antes, dava aulas de reforço a crianças e, antes de casar, cursou e concluiu o magistério. Colocou seu nome na lista de espera e, quase desanimando novamente, foi surpreendida pela aprovação.

Ali numa sala de aula, em 2012 e aos 44 anos, começava sua fase de descobertas, amizades e alguns novos desafios no caminho. “Foi desafiador, eu era a pessoa mais velha dali, mas aos poucos fui conhecendo pessoas ótimas, em um ambiente formado 90% por mulheres, que me acolheram”, lembra.

Em 2013, teve trombose da veia porta, uma obstrução no vaso sanguíneo que leva sangue dos intestinos para o fígado, que superou após procedimentos médicos. Em 2015, contudo, sinais em seu corpo apontavam para algo que sentia demandar mais atenção.

Era um pequeno caroço, em seu seio direito. Junto ao marido, começou a investigar, entre idas e vindas ao Hospital do Câncer e viagem à Barretos, interior de São Paulo, o que os exames apontaram no dia do aniversário de uma das filhas: o diagnóstico positivo do câncer de mama.

Desde o início, a atitude era positiva. “Esperei o momento certo pra contar a elas, semanas depois, sabia que era um estágio inicial. Sou devota à Nossa Senhora, e nela me apeguei, apesar de saber do que viria pela frente”, relata.

Em 2016, a quimioterapia levou seus cabelos e boa parte de sua liberdade, já que ficava a maior parte do tempo em casa se recuperando. A faculdade era a única exceção, que Mariney fez questão de tentar ao máximo acompanhar, em meio a todo o tratamento que era feito no interior paulista.

“Escolhi não parar de estudar, apesar do esforço redobrado, a reta final do curso. Sabe por quê? Conheci tanta gente que também lutava contra o câncer, alguns em situação muito mais delicada, e passei a valorizar a vida como nunca. Por mim, pela minha família, por eles”, divide.

Concluiu o TCC e o estágio em escolas em meio à reta final do tratamento, de radioterapia, sempre demonstrando força aos colegas. Concluiu o curso. Foi oradora da turma na colação de grau. Ensinou e aprendeu a ver o mundo de outra forma. Livrou-se do câncer.

Agora, busca oportunidades de trabalho para aplicar os conhecimentos da faculdade e, apesar da falta de oportunidades às pessoas recém-formadas na sua idade, segue em frente tentando. No período mais intenso de sua vida, entendeu que ela deve ser levada como se fôssemos passageiros de um foguete, rápido, mas cheio de coisas lindas pra ver, e melhor quando com amor.