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sexta, 29 de março de 2024 Campo Grande/MS
COLUNA

Tiro Livre

Vinícius Squinelo

Auxílio-moradia de cada juiz em MS paga até 135 bolsas famílias. Cadê a revolta agora?

Benefício é pago mesmo a magistrados que já tenham casa própria, muitas vezes mais de uma

06 fevereiro 2018 - 07h08

Em terras sul-mato-grossenses – e quiçá de todo o País – a revolta parece ser realmente sempre seletiva. Críticos ferrenhos da tal Estado paternalista, aqueles que afirmam que o Bolsa Família destrói o País, parecem não dar nenhuma atenção ao vergonhoso auxílio à classe jurídica nacional. E pasmem: em Mato Grosso do Sul o auxílio moradia só de magistrados é mais custoso do que o benefício social!

Para quem não acredita, vamos aos números: em MS, são 138.621 famílias contempladas pelo Bolsa Família, ao valor de R$ 1,8 milhão mensal. Os 35 desembargadores de MS recebem até R$ 12.188,44 de auxílio moradia; enquanto juízes chegam a ganhar R$ 11 mil do benefício. O gasto da Corte com as tais moradias: R$ 1,9 milhão mensal. Os dados são oficiais, respectivamente divulgadas pelo Palácio do Planalto e pelo Conselho Nacional de Justiça.

O valor do Bolsa Família é variável entre R$ 85 e um máximo de R$ 170 por família. Logo, somente auxílios de magistrados podem bancar, sozinhos, 135 bolsas famílias, benefício que tem como função legal complementar a renda da população que vive abaixo da linha da pobreza.

Nada de ilegal nos auxílios do judiciário – afinal, para quem julga a validade das Leis, como ser ilegal?  Porém, a moralidade é outra questão. O oferecimento do benefício de alto valor para supostamente bancar a moradia, mesmo de quem já possui inúmeros imóveis, mostra que existem castas no País. E destas, o judiciário está no topo, ali ao lado dos políticos.

Porém, impressionante mesmo é ver como se cala a dita revolta popular quando o alvo da polêmica são os excelentíssimos magistrados. Nada de textão na internet, nada de MBL ou movimentos ‘populares’, as panelas então seguem caladas. Vivemos mesmo no País da hipocrisia.

Em tempo, na foto de capa é mostrada a escultura do dinamarquês Jens Galschiot: uma Justiça obesa nos ombros de um povo esquálido.