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COLUNA

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Pedro Martinez

Estrada Sem Lei: pega ladrão...

Perseguição

05 abril 2019 - 10h59

O diretor John Lee Hancock possui um talento indiscutível: narrar dramas intimistas passados dentro de um contexto amplo e impactante da mais recente história americana. Pra quem não se lembra foi ele a cabeça pensante de Um Sonho Possível (onde uma socialite muda a vida de um jovem negro) e Walt Nos Bastidores de Mary Poppins (que mostra o relacionamento conturbado de Walt Disney com a escritora de Mary Poppins no processo de criação do filme).

Agora ele bota no currículo outra história até mais incrível ainda que as outras duas exemplificadas anteriormente. Na Netflix estreou Estrada Sem Lei. Nele veremos o drama pessoal de dois homens, em meio à perseguição interminável de Bonnie & Clyde na década de 30 - ainda hoje dois dos mais notórios criminosos americanos. Tão notórios que já foram assunto de várias produções audiovisuais, entre séries e filmes.

Em filmes como esse, normalmente, vemos que criminosos ganham status de celebridade, onde possuem fama e popularização. Isso vem lá de trás onde uma glamourização teve início com mafiosos, ladrões de banco e matadores. O crime e a vida fácil seduz o homem. Está impregnado na nossa natureza querer ter mais liberdade e poder fazer o que der na telha na hora que bem entender. Ser livre de amarras sociais é uma fantasia.

Mas Estrada Sem Lei foca no caminho completamente inverso desse. Centra -se a trama nos homens responsáveis por tentar dar um fim à onda de crimes do casal. O roteiro quase nem mostra nada de Bonnie é Clyde; eles são inclusive tratados com um certo misticismo. O filme conta mais sobre a histeria coletiva em torno da lenda dos dois. Em nenhum momento tentam humanizá-los - coisa que foi feita na maioria das outras produções sobre o tema.

Aqui a visão é sobre o outro lado; o lado dos homens da lei que estão no encalço da dupla incapturável. Frank Hammer (Kevin Costner) não entende como há tanta inversão de valores no tratamento quanto a Bonnie e Clyde, afinal eles são tratados como Robin Hood - roubam dos bancos ricos que consequentemente roubam dos pobres. Ninguém lembra que eles não dividem o lucro com ninguém e  ainda deixam um rastro de assassinatos à sangue frio pelo caminho - fato esse que mais remexia o caldeirão do ódio entre os homens da lei.

Frank Hammer e Maney Gault (Woody Harrelson) são dois policiais aposentados,  depois da extinção dos antigos Texas Rangers, que foram chamados as pressas e voltaram ã força policial agora com o cargo de Oficias da Estradas (The Highwaymen - título original do filme). Mas claro que são convocados a contragosto da governadora Má Ferguson (Kathy Bates), a primeira mulher a ocupar o cargo no país na época. Como eles eram literalmente caubóis que agiam por conta própria, agentes como eles eram um risco, porém era sabido que esse era o único jeito de ter o resultado esperado. Eles eram os únicos que dariam conta do recado. E a espera era grande pois já faziam quase 3 anos que os dois estavam em fuga. Nem mesmo J. Edgar Hoover, o manda chuva da lei federal dos EUA era páreo para o casal.

Em suma, o longa fala sobre homens perdidos no tempo que se depararam com um fenômeno incompreensível: os jovens. O mundo mudava e existia uma troca de crenças e valores. E isso tudo batia de frente com sua sabedoria antiga.

Estrada Sem Lei é uma produção de entretenimento adulto no melhor sentido da palavra e pondera inúmeras questões dignas de debate e o faz na forma de um grande espetáculo cinematográfico.

5 pipocas.

Disponível na Netflix.