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Saúde

'Depressão sorridente': guarda civil comete suicídio na Capital e especialista chama atenção

No país, 32 brasileiros tiram a própria vida por dia

20 abril 2019 - 15h50Por Rodson Willyams

Nos últimos meses, o TopMídiaNews vem abordado um tema que é considerado 'tabu' na sociedade, o suicídio. Cerca de 32 brasileiros tiram a própria vida por dia, sendo uma taxa muito alta se comparado com vítimas da AIDS e da maioria dos tipos de câncer, segundo dados da Campanha Setembro Amarelo. 

Nesta sexta-feira (19), mais um caso foi registrado em Campo Grande. Desta vez, um guarda municipal de 32 anos usou a arma da própria corporação para por fim à vida, sem ter tido tempo de pedir ajuda. Amigos disseram que a família e todos foram pegos de surpresa. Quem o conhecia, revelou que o jovem não aparentava ter sinais de depressão e que atualmente é considerado um dos motivos que o levou a cometer o ato.

A reportagem entrou em contato com a professora acadêmica e psicóloga Avany Cardoso Leal, que explicou que nem sempre, as pessoas que estão com sintomas de depressão demonstram sinais aparentes. Há algumas que mascaram.  

"Existe a depressão sorridente. A pessoa não demonstra que está com depressão, faz de conta que está tudo bem, às vezes, não fala porque tem medo de perder o emprego ou por achar que pode se tornar um peso para amigos e familiares", revela.

O fato de ser um agente de segurança pública também chama a atenção, segundo a psicóloga. "A pressão e o estresse podem culminar em um quadro de depressão. Se a pessoa não souber lidar com isso pode vir a cometer o suicídio. Por isso, todas essas entidades de segurança pública devem ficar atentas, ainda mais, quando tem acesso fácil as armas".

Para quem fica

Para quem fica, a dor é imensa e às vezes as pessoas podem não entender o motivo que levou um companheiro ou companheira, alguém da família a cometer isso. "Já acompanhei diversos casos de pessoas que sobreviveram a casos de vítimas que cometeram o suicídio. Geralmente, sentem muita dor, na maioria dos casos culpa por não ter percebido. Ficam imaginando o que poderia ter feito. Mas isso, não é culpa de ninguém é uma fatalidade".

E emenda, "em muitos casos, sentem profunda tristeza, sensação de abandono. Imagina que a pessoa preferiu tirar a própria vida do que permanecer na vida de quem o acompanhava. Os sentimentos se tornam confusos e há uma sensação de sentir traído".

Guarda Municipal

A reportagem entrou em contato com o presidente da Guarda Civil Metropolitana, Hudson Bonfim, que inicialmente, destaca que a corporação lamenta a morte do colega. De imediato destaca que todos os guardas municipais contam com um acompanhamento biopsicossocial dentro da entidade.

"Mas neste caso em específico. O guarda não aparentava ou demonstrava que tinha problemas neste sentido. Era um rapaz super habilitado, tranquilo. Recentemente havia passado por um curso de reciclagem e de armamento oferecido pela Polícia Federal que faz também esse acompanhamento de controle emocional. Então, para nós, fomos pegos de surpresa".

Bonfim confirmou que o colega usou a arma da corporação para cometer o ato. "Usou a arma de carga". Mas lembra que guarda também desempenhava outra função. "Ele era professor matemática, dava aula na Escola Municipal Nerone Maiolino, no Vida Nova".

"A gente lamenta o que aconteceu e o nosso setor agora dará todo o apoio a família que fica", finaliza o Bonfim.

O TopMídiaNews tentou contato com a família, mas não obtivemos resposta. 

Pedido de ajuda

A psicóloga Avany Cardoso Leal afirma que para aquelas pessoas que estão passando por isso, com sintomas de depressão seja ela aparente ou não, devem pedir ajuda imediatamente. "Se você tem esse pensamento de tirar a própria vida, de querer ir para um outro lugar que ninguém te conhece, de sumir, de querer ir embora já é um sinal que há algo errado. Às vezes, a pessoa pensa que vai dar conta sozinha, mas não dá e pode chegar a um caso como esse".

Valorização da vida

O suicídio representa uma parcela expressiva do número de óbitos registrados no Brasil e no mundo e, neste contexto, é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um problema de saúde pública. Para prevenir estas situações, existe o Centro de Valorização da Vida (CVV).

Fundado em São Paulo, em 1962, o CVV é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal, desde 1973. Presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato.

Os contatos com o CVV são feitos pelos telefones 188 (24h e sem custo de ligação) ou 141 (nos estados da Bahia, Maranhão, Pará e Paraná), pessoalmente (nos 89 postos de atendimento) ou pelo site www.cvv.org.br, por do meio chat e-mail. Nestes canais, são realizados mais de 2 milhões de atendimentos anuais, por aproximadamente 2.400 voluntários, localizados em 19 estados mais o Distrito Federal.